Um set de cinema pode trazer muitas surpresas e lições para estudantes da área. Misturando uma adoração de fã ao ofício de um funcionário cria-se a situação da satisfação e do trabalho no mesmo lugar. Talvez seja isso a famosa magia do cinema. Por uma semana tive oportunidade de experimentá-la no longa-metragem Os Senhores da Guerra, dirigido por Tabajara Ruas baseado no livro homônimo de José Antônio Severo,. O filme narra a história de dois irmãos que se encontram em lados opostos nas sangrentas batalhas que estouraram no Rio Grande do Sul nos conturbados anos de 1920. Nesse post está um breve relato do que encontrei por lá.
Seis e quinze da manhã. Trabalhadores sonolentos aguardam a chegada do transporte. Tudo ainda é escuro. Ao chegarem à locação, nas margens do rio Vacacaí, começam as atividades em impressionante organização, apesar do grande número de pessoas, sendo um dos aspectos mais notáveis e, a meu ver, fundamentais na realização do longa (valendo destacar o grande número de figurantes armados e muitas vezes a cavalo que precisavam ser coordenados). Para todos os equipamentos dispostos no set, todo planejamento e ensaio, gravava-se poucos planos por dia para minha surpresa, habituado a gravar cenas inteiras no mesmo período nos projetos acadêmicos. Claro, se tratavam de planos complicados envolvendo muitos atores, figurantes e efeitos especiais. Ainda assim, ver toda aquela mobilização para segundos de filme é incrível.
Quando a preparação está completa a agitação da equipe diminui. A câmera começa a rodar. Olhos atentos à gravação. O menor passo na areia pedregosa do Passo do Verde, em Santa Maria, é ouvido à distância. Ninguém se move. O mundo para por instantes. “CORTA”. Todos se apressam para retomar suas funções, fazer o que tem de ser feito. Os chefes de equipe analisam a situação e conversam entre si. Retoques na maquiagem. Conferência no vídeo assist. Um “OK” para o plano em questão e parte-se para o próximo. A agitação recomeça.
Contudo é interessante citar algo, pois nem tudo cabe dentro do planejado. Outra manhã, mesma equipe. Um Inimigo dos céus, um dos maiores inimigos, estava por vir. Ao desembarcar notei os ânimos diferentes. Também não quis acreditar: tinha começado a chover. Pode não parecer muito, mas quando a produção envolve uma equipe enorme, com muitos figurantes, numa gravação externa e que depende do nível do rio para seguir em frente, a situação fica tensa. Ainda assim, tudo precisa ser preparado como se o sol fosse surgir dentro em poucos instantes. Nesse dia não tivemos essa sorte e todos retornaram após a certeza que o tempo continuaria ruim. As opções para gravação de chuva tinham sido todas esgotadas. Faz parte.
A frase que escutei no SET me volta à mente e resume bem toda a experiência: “Pra fazer cinema é preciso sujar as mãos”. Poderia acrescentar ao “sujar das mãos” o “molhar os pés” pela chuva. Contudo, nada mais simples e eficaz do que a boa e velha prática.
Postado por: Gustavo Dalla Costa Fotos: Arquivo pessoal
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