1 de julho de 2011

Entrevista com aluno de Cinema de Animação sobre o Programa Mais Educação

O Programa Mais Educação, do governo federal, foi criado em 2007 e desde o ano seguinte está sendo realizado em escolas públicas de todo o Brasil, tendo como objetivo a implantação da educação integral com atividades optativas para os alunos da rede pública de educação. A área de atuação do programa foi demarcada inicialmente para atender, em caráter prioritário, as escolas que apresentam baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e o governo federal destina verba a estas escolas para a remuneração de monitores e compra de material de acordo com as atividades, que atendem as áreas de meio ambiente, esporte e lazer, direitos humanos, cultura e artes, cultura digital, prevenção e promoção da saúde, educação científica e educação econômica, entre outras.

Na cidade de Pelotas o Mais Educação foi implantado em algumas escolas públicas no ano passado e dentre as atividades oferecidas, está a aula de cinema. O projeto reuniu alunos dos cursos de Cinema e de Animação da UFPel que assumiram a responsabilidade de dar aulas de cinema às crianças através do programa. O blog QFrame entrevistou um destes alunos, Eduardo Souza, acadêmico do 3º semestre do curso de Cinema de Animação que desde o ano passado faz parte do programa como monitor lecionando uma vez por semana sobre cinema.

QFrame.:Eduardo, do que se trata o projeto?
Eduardo:O projeto é dar aula de cinema como uma espécie de oficina, no programa mais educação do governo federal. É um programa que pretende aplicar nas escolas o ensino integral, onde as crianças fazem outras atividades na escola além das aulas clássicas como português, matemática, física química e afins.

QF.:Como surgiu o interesse em participar do programa Mais Educação e dar aulas de cinema para crianças?
E.:A escola entrou em contato com a coordenadora do curso de Cinema da UFPel que repassou o contato para os alunos via e-mail. Como dar aula de cinema é uma novidade e algo que poderia adicionar muito ao meu conhecimento, além de que eu queria saber como é dar aula para crianças, eu resolvi assumir.

QF.:Quanto tempo que tu fazes parte do projeto?
E.:Eu faço parte do projeto já tem dez meses.

QF.:Desse tempo pra cá, houve alguma diferença na relação das crianças com o cinema?
E.:Acredito que sim, agora durante os filmes que passamos, elas já dizem coisas como “olha esse tem 24 desenhos por segundo, para animações” ou “olha professor, o roteirista escreveu um filme bem legal”. Então acredito que aos poucos elas vão criando novos conceitos e aprimorando o conhecimento sobre cinema.

QF.:Tu achas que é importante que a criança tenha um acompanhamento e discuta sobre os filmes que assiste em sala de aula? 
E.:Sim, é legal ter um acompanhamento, pois tem várias dúvidas que se pode tirar da criança, como, por exemplo, como o filme é feito, como ele é escrito, quem é o que dentre os que fazem o filme. Sem contar que também é possível, a partir dos filmes, discutir problemas sociais, ou conceitos de outras disciplinas.

QF.:Tu achas que esses conceitos e as questões sociais muitas vezes abordadas pelas histórias dos filmes seriam menos compreendidos pelas crianças sem o auxílio das discussões em aula?
E.:Sim, porque as crianças só possuem a vivencia de casa, e cada família tem seus próprios hábitos, costumes, religião, o que interfere na forma que a criança será educada. Logo,  discussões como homofobia ou
gravidez na juventude dificilmente chegam a serem discutidas em casa. Em sala de aula com uma orientação de um professor esse assunto pode ser discutido sem preconceitos através dos temas abordados nos filmes.

QF.:Como futuro profissional do cinema, tu achas importante para a formação de público no Brasil esse contato mais aprofundado das crianças com o cinema já na escola? Acredita que isso terá retorno futuramente para a área?
E.:Sim, acho que dará muito retorno. Não só pela formação de público para o cinema interno, mas também para a formação de novos profissionais, eu já tenho alunos que pensam em fazer cinema de animação. Todo e qualquer tipo de formação extra nas escolas brasileiras só vem a fortalecer o que a próxima geração pode gerar para o nosso país.

QF.:E como está sendo, para ti, a experiência de dar aula de cinema para as crianças, o que isso está gerando para a tua formação acadêmica? Pretende continuar dando aulas depois de formado?
E.:Está sendo bem legal, é uma oportunidade muito boa e pra minha formação acadêmica gera muito em termos de didática para apresentar trabalhos e o contato direto com o público final. Não sei se pretendo dar aulas depois de formado, mas acredito que não.

QF.:Que idade tem as crianças que fazem parte do projeto?
E.:Elas têm entre 8 e 15 anos, mas são de turmas de terceira e quarta série do ensino fundamental.

QF.:Quais as dificuldades que surgem ao dar aulas de cinema para eles? As aulas da faculdade contribuem de alguma forma para superar essas dificuldades?
E.:A maior dificuldade é controlar um número muito grande de crianças dentro de uma sala de aula, mas isso com o tempo vai educando e acostumando eles as rotinas de sala e o tipo de liberdade que você dá ou não. As aulas da faculdade contribuem no sentido de sabe o que dar de conteúdo na hora certa.

QF.:Na sua escola só tu dá aulas de cinema ou tem mais alguém? Vocês recebem apoio da coordenação de lá?
E.:Não, tem eu e mais três pessoas, divididos em dois por turma. A coordenação sempre procura nos orientar e apoiar.

QF.:Como é o processo de elaboração do plano de ensino e como se constrói a estrutura da aula?
E.:Não tenho plano de ensino, não acredito que seja necessário. Elaboramos a aula colocando filmes na aula anterior em votação, ou escolhendo previamente por temática, selecionamos um filme e levamos para passar. Então dentro de cada vertente do cinema vamos trabalhando conceitos usando o filme como base, como número de frames, criação de roteiros, estrutura técnica, e por aí vai.

QF.:Como está sendo o apoio dos pais com relação as aulas de cinema na escola?
E.:O apoio dos pais é complicado, pois muitos ainda têm algum receio ou preconceito quanto à liberdade das crianças para assistirem certos filmes, o problema normalmente vem relacionado com religiões. Sem contar que muitos pais não gostam que seus filhos sejam repreendidos, o que complica o ensino.

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