5 de maio de 2011

Crítica: Costela de Adão


O despertar de consciência da mulher liberta.
"Costela de Adão" brinca com certo e errado na sociedade machista americana

Em plena Wall Street uma mulher de chapéu e expressão nervosa consome compulsivamente uma barra de chocolate. De uma empresa, sai um homem de chapéu que ruma em direção ao metrô - ele é seguido pela já dita mulher. Nada é dito até esse momento, mas mesmo o espectador menos atento já sabe tratar do clássico caso da mulher desconfiada perseguindo o marido suspeito de ser infiel. No metrô ela deixa cair a bolsa e percebemos que ela tem uma arma, mais tarde ela, com o revolver à mão, lê o manual de instrução da arma (que ela ganhou de graça). A infidelidade se confirma e meio desajeitada ela atira contra o marido e a amante -errando quase todos os tiros e apenas ferindo o marido. Assim começa "Costela de Adão"(Adam's Rib, 1949, George Cukor) uma das mais clássicas comédias produzidas por Hollywood.

Em um segundo momento somos introduzidos aos protagonistas de fatos dessa deliciosa película. Adam (Spencer Tracy 1900 -1967) é o assistente do promotor chefe da cidade, casado com Amanda(Katharine Hepburn 1907 - 2003), uma advogada feminista -ainda que o filme date de antes do movimento feminista ter surgid propriamente. Ao receberem os jornais matinais -um diferente para cada, afim de ilustrar suas diferenças ideológicas- ambos logo veem a manchete sobre uma tentativa de assassinato, claro, a brevemente narrada logo acima. Ambos discutem brevemente sobre o texto, causas e justificativas, o que evidencia ainda mais suas diferenças a discordância dos dois sobre o tema.

Ainda não sabemos - apesar de ser fácil imaginar - mas é essa discussão que permeará toda a trama da história. Apesar de unidos por uma afinidade profissional, essa pode acabar pondo em risco a vida de casal dos dois, quando se encontram em lados opostos no tribunal. Com um mote desse o filme poderia se transformar facilmente em um dramalhão, o roteiro do casal Ruth Gordon e Garson Kanin, no entanto, aliado à direção de Cukor não permitem levar o filme a esse rumo.

Feito numa época cujo o filme americano é, hoje, considerado sinônimo de caretice, fórmula quadrada, com representações ultrapassadas e - principalmente - de valores desatualizados no tema e na moral, "Costela de Adão" flerta com o subversivo.

Não o é, no entanto. Sabe-se que à época o fazer filmes em Hollywood era submeter-se a censores. Aceitar restrições sobre o que podia ou não ser mostrado. "Costela..." no entanto parece ter escapado de tanta caretice. O tema é atual até hoje.

Logo na primeira cena do tribunal, quando os dois se encontram debaixo da mesa e mandam "beijinhos" um para o outro, supõe-se a promessa muda de não permitir que nada daquilo afete o casamento dos dois. No entanto Amanda tentará inocentar a qualquer custo - inclui-se aqui o próprio casamento - Doris Attinger (Judy Holliday 1921 - 1965) com o argumento de que sendo um homem, com a justificativa de tentar proteger a própria família, este provavelmente seria absolvido. É ai que entra a comédia; - e um pouco do drama- a advogada usa de vários meios não ortodoxos para convencer o júri a proclamar sua cliente inocente.

Com o extrapolamento das investidas de Amanda na corte, o julgamento extrapola os limites do tribunal e passa a afetar a vida do casal Bonner. E se nas batalhas do juridicas brilha a estrela de Hepburn é nas brigas domésticas que Tracy sobressai. Adam não consegue impedir que as investidas nada ortodoxas da esposa durante o trabalho interfiram na relação a dois.

Para deixar as coisas ainda mais complicadas Adam tem à porta da frente de sua casa um rival. O pianista Kip Lurie (David Wayne) que não se importa em investir em Amanda mesmo em sua presença. Tudo vai formando uma bola de neve ácida que consome o casamento dos dois pouco a pouco.

O filme em momento algum preocupa-se em subverter qualquer cânone da realização cinematográfica de Hollywood. E mesmo em se tratando da temática polêmica, Cukor não ousa em momento algum levantar bandeira para qualquer um dos lados. No entanto é impossível ver o filme e não tirar qualquer conclusão de juízo sobre os valores apresentados.

E é nesse ponto de que o filme ainda mantêm-se atual. A luta das feminista que buscam não igualdade, mas sim superioridade diante dos homens; ou então mulheres pedindo o direito as mesmas falhas -ou desvios morais- encaradas com vistas grossas quando cometidos por homens, e transformados em escândalos quando por mulheres.

Assistir a este filme sem refletir sobre as questões feministas levantadas no último século e que ainda permeiam as mesas de debates desse é uma completa perda de tempo. Afinal, apesar de bem realizado, dos seus diálogos rápidos e divertidos, filme - em termos cinematográficos - não tem muito a acrescentar. Fica para a reflexão de valores e sua moral, um despertar de consciência da mulher liberta, que talvez esteja fazendo as reinvidicações errados em nome de um ideal, o de igualdade, que o filme tem a força para ser considerado um clássico do cinema americano.

Crítica por Eduardo Bonatelli para a disciplina de Crítica de Cinema, ministrada pela professora Ivonete Pinto.

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