Let The Wild Rumpus Start: monstrinhos para adultos.
O filme Onde Vivem os Monstros (Where The Wild Things Are, 2009) é dirigido por Spike Jonze, adaptado do livro de mesmo nome do escritor e ilustrador Maurice Sendak, teve sua estréia nos cinemas brasileiros em Janeiro de 2010. A obra de Sendak é amplamente cultuada pelos norte-americanos, sendo encaixada entre as mais importantes obras infantis, mas só ganhou a graça dos brasileiros quando a editora Cosac Naify publicou o livro em português, poucos meses antes do lançamento do filme. Por ter se criado uma ‘ aura’ em torno do livro, tinha-se muito receio quanto a uma adaptacão para longa-metragem, mas o resultado agradou ao público. Seu sucesso se deve em grande parte ao diretor, que em parceria com Dave Eggers escreveu também o roteiro. O livro é formado somente por nove sentenças e o restante por ilustrações, preencher o espaço para tranformar a história em um longa-metragem foi um trabalho de brilhante imaginação dos roteiristas e resultou numa obra com uma sensibilidade ímpar.
O longa-metragem conta a história de Max (Max Records), um menino mimado, birrento e mal disciplinado, mas dotado de gigantesca imaginação.Após brigar com sua mãe, Max foge e acaba na floresta de uma ilha com seres animalescos. O menino faz amizades e acaba realizando seu sonho: ganha um reino só para ele onde pode fazer tudo o que lhe der vontade. A partir do momento em que Max entra no barco e vai em direção a ilha, o espectador é transportado parau ma realidade própria do personagem onde é possível identificar os mais variados conflitos internos do menino. Cada ser da ilha representa tipos de comportamentos próprios de Max: Judith, agressiva e pessimista; Ira, o calmo; Bernard, o solitário e misterioso; Douglas, o apaziguador; KW, provocativa e maternal; Alex, o tímido; e Carol, impulsivo e carismático que se torna o melhor amigo de Max. A medida em que o tempo passa e que as relações vão se estreitando, os conflitos vão surgindo e Max pode ver em cada um dos personagens o melhor e o pior de si, o anjinho e o diabinho, e não gosta de tudo o que vê e sente. Toda a reflexão que sua imaginação provoca, acaba por resultando numa attitude também conhecida: a mesma attitude que sua mãe tem quando Max faz malcriações. Isso pode mostrar uma compreensão do menino com a mãe e uma enorme reflexão quanto as suas atitudes. A atuação de Max Records é muito convincente e o fato de ele e Spike Jonze já se conhecerem de outros trabalhos certamente contribuiu para o bom resultado obtido.
A parte visual do filme também se destaca, onde fotografia e direção de arte se complementam. Cores suaves ajudam a criar a atmosfera infantil do filme enquanto a computação gráfica faz com que os monstros pareçam reais e, ao mesmo tempo em que são assutadores, são fofos e amáveis – o que está de acordo com toda a história do filme. Os planos são bem variados, com destaque para os planos gerais no deserto que são, de certa forma, inusitados tendo em vista que o diretor é conhecido por dirigir videoclipes.
Outro destaque, e não poderia ser diferente, é para a trilha sonora do filme composta por Karen O, vocalista da banda indie Yeah Yeah Yeahs e ex-namorada do diretor. Para a trilha Karen criou uma banda própria: Karen O and The Kids. As músicas cantadas por Karen O e crianças em coro são inocentes, vibrantes e complementam a atmosfera criada para filme.
O longa-metragem conta uma história infantil mas certamente conquista muito mais o público adulto, não somente pelos personagens complexos, pela estética, pela atuação primorosa de Max Records ou pela história em si, mas pela junção de todos esses elementos de forma balanceada e uniforme, onde tudo é harmonizado. O filme é um convite aos adultos a voltarem a infância e entrarem na imaginação de Max para que liberem seus instintos mais selvagens. Como diz a música de Karen O and the kids “ Let the wild rumpus start!” .
Crítica por Ana Maria Dacol para a disciplina de Crítica de Cinema, ministrada pela professora Ivonete Pinto.
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